Caso queira postar algo, mande para o nosso e-mail servirilha@gmail.com e em breve seu post estará aqui.

terça-feira, 1 de junho de 2010

EXTRA...EXTRA...VIRILHAS


Meninas,

Hoje faz um ano do desaparecimento do meu primo Silvio Barbato. Posto aqui um texto escrito por Francisco que gosta muito de música, toca violão, é economista, tem 25 anos e atualmente mora no Rio, onde faz o mestrado em economia na UFRJ.

Fica registrada a minha homenagem a uma pessoa que através da música levava muita alegria. Seu sorriso era sinônimo de luz. Ele sempre reunia a família em seus espetáculos e fazia daqueles dias um retrato do orgulho e me fazia encher a boca para dizer, aquele cara ali é meu primo.

Saudade.

Em Sol Menor: Quando os Astros Diminuem

Nestes dias, de algumas alegrias, algumas tristezas e muitos acontecimentos nem uma nem outra coisa, algo tem ocupado minha mente e minha fala: a morte do maestro Sílvio Barbato. Além da notícia midiática, as histórias vão sendo contadas, os vínculos, estabelecidos, e chega aos nossos ouvidos cedo ou tarde o ocorrido: alguém querido se foi. Mas vocês, pacientes leitores, possivelmente estão se perguntando o que eu tenho a ver com este homem; dou-lhes plena razão pela dúvida. Ao mesmo tempo, peço licença para desfazer-me da habitual formalidade e para oferecer as linhas deste texto a um dos componentes da trilha sonora da minha história.

Foram muitas as vezes em que ouvia meu pai cantar as músicas que lhe povoaram a juventude durante o banho, ou em que escutava seu rádio velho sintonizado na Brasília Super Rádio FM, sem que aquilo representasse algo de especial. Certas coisas, no entanto, integram nossa visão de mundo, nossa noção estética, nossa percepção do som, de maneira inconsciente, à revelia de nossas escolhas imediatas. Hoje sei que desde ali a música atemporal e eterna dos grandes mestres da humanidade, à qual convencional e pretensiosamente chamamos clássica ou erudita, passou a ecoar nos cantinhos escondidos do meu espírito, o que mais tarde se tornaria um acelerador dos meus impulsos de autoconhecimento e um acentuador do meu prazer de viver.

Bem, sou do tipo que gosta de contar para si mesmo o roteiro do próprio filme, em que o protagonista sou eu. As coisas não podem ser tão desinteressantes quanto parecem às vezes! E Brasília às vezes me parecia muito desinteressante: casa-colégio-almoço-casa-academia-festinha-carro-esplanada (!). Tsc, tsc... Antes de cair nas armadilhas da rotina, dispensei um monte de bobagens – segundo minha sabedoria de 16 anos, nada arrogante, é claro – e comecei a bater perna, a pegar ônibus e a frequentar os concertos da cidade, como muitos colegas e principalmente pais de colegas costumavam fazer. Nada como ser impopular com as garotas e meio feinho, míope e temperamental para se tornar cult; o bom é que sem perceber os subprodutos desse processo de individuação ficam conosco. E foi nessas que conheci o Sílvio Barbato.
Seria difícil enumerar quantas vezes me esparramei naquele veludo verde da sala Villa-Lobos, ou que sujei minhas bermudas no gramado da torre de televisão ou da esplanada dos ministérios, a fim de esquecer a supracitada mesmice e viajar longe; longe e perto, longe de tudo e perto de mim. Daí via esse maestro com uma cara de gente boa, conversando conosco, aquela cabeleira balançando enquanto ele conduzia a orquestra, e mesmo em meus tempos de ateísmo-comunismo-egocentrismo-niilismo, ia às alturas e agradecia à Vida, a Deus ou sei lá a quem por estar ali. Às vezes acompanhado, e muitas, muitas vezes sozinho. De uma forma ou de outra, ali eu conheci música.

Querido maestro Sílvio Barbato, já estou com saudades, cara. Se o primeiro contato com a música foi doméstico, a trajetória do barco foi desenhada por você. A cada vez que ouço os acordes de uma sinfonia bonita, assomam-me à mente o Teatro Nacional, os gramados da cidade, as pessoas enaltecidas com a arte, os músicos bem vestidos sob a luz do palco, os projetos, muitos projetos... Então percebo que me desabituei a lamentar pelos que partem, e faço questão de não fazê-lo por você. Os movimentos de uma peça às vezes são interrompidos mesmo: é o processo. Que minha homenagem a você vá pelo ar: como ondas de gratidão, de respeito e de muita admiração. Muitíssimo obrigado pelos serviços prestados às pessoas, nunca esqueceremos. Valeu, maestro carioca de Brasília; da Brasília dos meus sonhos; e da Brasília, por consequencia, da minha vida. Um abração!

Virilhice de Liana

Nenhum comentário:

Postar um comentário