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quinta-feira, 10 de junho de 2010

O INACABADO QUE HÁ EM MIM




Eu me experimento inacabado. Da obra, o rascunho. Do gesto, o que não termina.

Sou como o rio em processo de vir a ser. A confluência de outras águas e o encontro com filhos de outras nascentes o tornam outro. O rio é a mistura de pequenos encontros. Eu sou feito de águas, muitas águas. Também recebo afluentes e com eles me transformo.

O que sai de mim cada vez que amo? O que em mim acontece quando me deparo com a dor que não é minha, mas que pela força do olhar que me fita vem morar em mim? Eu me transformo em outros? Eu vivo para saber. O que do outro recebo leva tempo para ser decifrado. O que sei é que a vida me afeta com seu poder de vivência. Empurra-me para reações inusitadas, tão cheias de sentidos ocultos. Cultivo em mim o acúmulo de muitos mundos.

Por vezes o cansaço me faz querer parar. Sensação de que já vivi mais do que meu coração suporta. Os encontros são muitos; as pessoas também. As chegadas e partidas se misturam e confundem o coração. É nesta hora em que me pego alimentando sonhos de cotidianos estreitos, previsíveis.

Mas quando me enxergo na perspectiva de selar o passaporte e cancelar as saídas, eis que me aproximo de uma tristeza infértil.
Melhor mesmo é continuar na esperança confluências futuras. Viver para sorver os novos rios que virão. Eu sou inacabado. Preciso continuar.

Se a mim for concedido o direito de pausas repositoras, então já anuncio que eu continuo na vida. A trama de minha criatividade depende deste contraste, deste inacabado que há em mim. Um dia sou multidão; no outro sou solidão. Não quero ser multidão todo dia. Num dia experimento o frescor da amizade; no outro a febre que me faz querer ser só. Eu sou assim. Sem culpas.


Virilhice de Mirella (texto P. Fábio de Melo)
Imagem Tumblr

Comentário de Beth Bezerra:
Adorei o texto. Nos faz refletir não somente sobre nos mesmos, como também sobre aqueles que nos rodeiam, com os quais convivemos, com aqueles que criamos e educamos. Acredito que nascemos a cada novo amanhecer. E ao acordamos, conforme diz uma amiga, Zildete Melo (http://suamaenaovaivoltar.wordpress.com), nunca dormimos do mesmo tamanho. Outros, já se auto definem como obra inacabada. O certo é que somos mesmo mutáveis ao longo da vida, e a cada experiência, seja ela boa ou não, crescemos e nos transformamos para enfrentar novos desafios vida afora. Na música “The Boxer” escrita e cantada por Simon e Garfunkel, uma das frases diz o seguinte: “after changes upon changes, we are more or less the same” = depois de muitas mudanças (transformações) somos mais ou menos os mesmos. Nossa essência é a mesma durante toda a nossa existência.

4 comentários:

  1. Adorei o texto. Nos faz refletir não somente sobre nos mesmos, como também sobre aqueles que nos rodeiam, com os quais convivemos, com aqueles que criamos e educamos. Acredito que nascemos a cada novo amanhecer. E ao acordamos, conforme diz uma amiga, Zildete Melo, nunca acordamos do mesmo tamanho. Outros, já se auto definem como obra inacabada. O certo é que somos mesmo mutáveis ao longo da vida, e a cada experiência, seja ela boa ou não, crescemos e nos transformamos para enfrentar novos desafios vida afora. Na música “The Boxer” escrita e cantada por Simon e Garfunkel, uma das frases diz o seguinte: “after changes upon changes, we are more or less the same” = depois de muitas mudanças (transformações) somo mais ou menos os mesmos. Nossa essência é a mesma durante toda a nossa existência. Beth Bezerra

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  2. Beth, adorei a sua colaboração!
    Concordo plenamente com você. Acho mágico perceber que somos diferentes a cada dia, porém com a mesma essência.
    A frase da sua amiga Zildete Melo também é formidável: "nunca acordamos do mesmo tamanho". Acho até que vou plagiá-la em alguns momentos, pois durante anos tentei dizer isso aos meus pacientes e agora a frase perfeita apareceu. Será que ela me empresta um pouquinho? (risos).

    Um abraço,

    Mirella.

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  3. Misses,

    A Zildete ajustou o que a Beth disse, na verdade nunca dormimos do mesmo tamanho, depois de viver mais um dia, a gente nunca dorme do mesmo jeito que acordou, e é bem verdade.
    Bj

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  4. Lella, é enriquecedor partilhar e até se apropriar de pensamentos, conceitos e aforismos que possam nos ser últil. É uma maneira de dar sentido a quem lê e a quem escreve.Estejam à vontade/estejamos à vontade.

    “Não tenho o direito de dormir do mesmo tamanho que acordo”. Ouvi essa declaração de um professor no meu primeiro ano de faculdade. Na ocasião, pensei: se ele que sabe tanto não se acha nesse direito, imagine eu!

    Desde então fiquei mais atenta para o aprendizado de cada dia. Se não uma palavra nova, um significado novo para uma palavra gasta eu preciso encontrar. Se não for possível explorar uma galáxia por dia, tenho que descobrir pelo menos a utilidade das bolinhas de argila expandida.

    E como não poderia deixar de ser, a fala do professor se transformou no post "Tropeçar é andar pra frente?", publicado no BLOG que a Liana mencionou, no dia 06/10/2008. Quem quiser ler a íntegra, é só buscar na coluna à direita, no mês correspondente. bjs, zil

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